12.8.07

A "caixa d'água" do Brasil


Nas últimas décadas, a região Centro-Oeste do Brasil vem se transformando numa espécie de celeiro do país, especialmente com a expansão e consolidação de uma agricultura de caráter empresarial, onde as vedetes são o cultivo da soja e do algodão.

Do ponto de vista natural, o Centro-Oeste se destaca pela presença de amplas áreas das chapadas tropicais recobertas extensivamente pela vegetação do cerrado e por uma região conhecida como Pantanal, com características de transição morfoclimática, identificada por uma extensa baixada, com formações vegetais heterogêneas e drenada pelo rio Paraguai.

Quando se observa um mapa da rede hidrográfica do Brasil, percebe-se que no interior da região Centro-Oeste correm cursos fluviais para todas as direções. Por isso, o chamado Planalto Central é o mais importante dis¬persor de águas da rede hidrográfica brasileira. Quatro grandes bacias hidrográficas drenam áreas do Centro-Oeste de forma mais ou menos equivalente.

A primeira é a Bacia Amazônica que drena a parte centro-norte de Mato Grosso onde correm vários afluentes da margem direita do rio Amazonas, como os rios Xingu, Juruena e Teles Pires, entre outros. A porção leste de Mato Grosso, o centro-norte e o oeste de Goiás são atravessados pelos rios da Bacia do Tocantins-Araguaia. Já, o centro-sul de Goiás e o centro-leste e o sul de Mato Grosso do Sul são cortados pelos rios da Bacia do Paraná. Por fim, toda a parte sul de Mato Grosso e a porção noroeste de Mato Grosso do Sul são atravessados por rios da Bacia do Paraguai.

Os rios dessas bacias não cruzam exclusivamente as unidades federativas do Centro-Oeste, mas estendem-se por outras regiões brasileiras e também por nações vizinhas ao nosso país. Isso atribui ainda maior importância à rede hidrográfica do Centro-Oeste: vários países sul-americanos, entre os quais o Brasil, têm o maior interesse em incrementar a navegação fluvial.

Diferentemente ao que ocorre em outras regiões do país, os divisores de água do Centro-Oeste nem sempre separam de forma nítida uma bacia hidrográfica de outra. Isso decorre do fato de que, na região, uma parte considerável das elevações é constituída por formas de relevo cujo "topo" é marcado por grande horizontalidade.

Por conta desse aspecto morfológico, os altos vales e as nascentes de rios de diferentes bacias podem se localizar tão próximos uns dos outros, que os cursos fluviais podem se dirigir, indiferentemente, para uma ou outra bacia. Esse "embaralhamento" de rios de bacias hidrográficas diferentes é conhecido como "águas emendadas".

Em função de suas características morfológicas e hidrográficas, a região Centro-Oeste funciona como uma espécie de "caixa d'água" do país, na medida em que dispersa águas em todas as direções. Essa condição geográfica é um fator de grande relevância para uma maior e mais produtiva integração nacional e continental.

Nelson Bacic Olic - Revista Pangea.

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